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Quem tiver cultura de planejamento terá grande vantagem competitiva

Fonte: FIESP

Para o diretor do Decomtec, empresários precisam rever suas estratégias e conhecer melhor o público-alvo, com dados e informações mercadológicas


O aumento da renda dos brasileiros e o aquecimento do mercado interno proporciona uma janela de oportunidades para as indústrias, segundo José Ricardo Roriz, diretor do Departamento de Competitividade e Tecnologia (Decomtec) da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).


O tema será debatido no seminário ’A Indústria frente à Necessidade de Conhecer seu Mercado’, que acontece nesta quinta-feira (18/10) na Fiesp.


Em entrevista ao portal Fiesp, Roriz aponta os principais desafios da indústria e sinaliza alguns dos caminhos para o aumento da competitividade brasileira.


Leia, a seguir, a entrevista com o Diretor Decomtec/Fiesp:


Nos últimos anos, com o aumento da renda dos brasileiros, o mercado interno está aquecido. Recentemente, em reunião do Cosec, o senhor apresentou na Fiesp uma projeção de que 57% da população brasileira terá elevada propensão ao consumo de bens industriais em 2014. Quais os pontos essenciais para as indústrias aproveitarem esse potencial?


José Ricardo Roriz – O aumento da renda trouxe uma grande quantidade de famílias que querem e necessitam adquirir produtos de todas as categorias. Criou-se uma espetacular janela de oportunidades para o setor industrial que viu seu mercado se expandir em um curto período de tempo.


Para o setor industrial nacional aproveitar esta janela é necessário rever as estratégias empresariais, colocando um foco maior para os consumidores da dita nova classe média brasileira. Para tanto é necessário conhecer melhor este mercado com dados e informações mercadológicas.


Essa necessidade será abordada no seminário ’A Indústria frente à Necessidade de Conhecer seu Mercado’?


José Ricardo Roriz – Sim. No seminário será apresentado o aplicativo “Inteligência de Mercado da Indústria, uma ferramenta essencial que contém essas informações que devem ser utilizadas para suportar os planos de ação da empresa.


Em sua opinião a indústrias brasileiras já incorporaram uma visão estratégica necessária para terem um arrojo competitivo?


José Ricardo Roriz – Vivemos uma realidade de quase duas décadas de estagnação, onde a ordem do dia-a-dia das empresas era sobreviver, e a cultura de planejamento foi colocada em um plano inferior. Com o atual cenário, a cultura do planejamento nas indústrias de menor porte tem de ser colocada na linha de frente, e as empresas que entenderem isto terão uma grande vantagem concorrencial.


A melhora do poder aquisitivo do brasileiro mudou hábitos de consumo, como a predileção por produtos mais inovadores. Como as indústrias em especial as MPEs podem garantir sua competitividade nesse cenário?


José Ricardo Roriz – Claro que haverá sempre a maior demanda de produtos inovadores. As empresas de menor porte devem saber posicionar a sua oferta dentro do mercado. Se ela tem competência e capacitação para se diferenciar com inovação em produtos e estratégia de vendas, que a utilize.


Porém, se a empresa, através de uma análise interna, perceber competência para atuar com produtos menos inovadores ou “comoditizados”, que o faça explorando esta competência de forma superior à concorrência. É importante que, aos poucos, busque diferenciar-se da concorrência agregando inovações, mas sempre com um processo planejado através de dados e informações do mercado e da melhora da capacitação interna. Ou seja, vivemos um momento que há demanda para todos os níveis de uma mesma categoria de produto.


Como o empresário deve equacionar o trinômio investimento–inovação– competitividade no dia-a-dia de seus negócios?


José Ricardo Roriz – O investimento em inovação não se justifica apenas por uma questão de sobrevivência. Os investimentos em P&D e inovação são muito mais complexos, pois influenciam tudo o que está relacionado ao negócio da empresa: marketing, serviços e suporte, fornecedores, manufatura, e, principalmente as finanças da empresa e sua capacidade de gerenciar riscos e lidar com as incertezas.


Portanto, todos esses elementos devem ser equacionados, e o mais importante: não basta dizer aos funcionários que eles devem trabalhar para tornar a empresa inovadora e depois “cruzar os braços”, esperando que eles o façam. O ser humano só avança por interesse, o que exige iniciativas para que as inovações ocorram com maior frequência como, por exemplo, dar mais liberdade aos funcionários, e fornecer o suporte necessário para tentar novas abordagens e métodos; pode haver recompensas por produtos novos e potencialmente valiosos, e por melhores práticas de conduzir a pesquisa.


Quais são os principais desafios para a competitividade brasileira?


José Ricardo Roriz – São vários desafios, sobretudo de ordem sistêmica, tais como:


Alta carga tributária (os tributos correspondem a 40,3% do preço dos produtos industriais);

Excessiva burocracia para pagar impostos (2,6% do preço dos produtos industriais se devem aos custos incorridos para pagamento da carga tributária);

Deficiências na infraestrutura logística contribuem para aumento dos custos dos nossos produtos.

Temos também alto nível de encargos sobre a mão de obra, que representam 32,4% do total dos custos de mão de obra na indústria.

E há também o alto custo de capital. O Brasil tem a 5ª maior taxa de juros básica do mundo. E no caso do spread é pior. Segundo dados de 2011, o spread brasileiro é 11,7 vezes maior do que os países que calculam com critério idêntico ao nosso, como a Malásia, Japão, Chile e Itália.

Outro obstáculo é a nossa valorização cambial. Entre junho de 2004 e setembro de 2012, a moeda nacional foi a mais valorizada ante o dólar (54,3%) dentre as de várias economias relevantes. A China, por exemplo, valorizou-se 31%.




Quais pontos da política econômica atual podem contribuir para garantir o aumento da competitividade brasileira?


José Ricardo Roriz – Eu destacaria os seguintes aspectos da política econômica recente:


Contenção da tendência de valorização do real (embora a moeda nacional ainda se encontre expressivamente valorizada);

Introdução de desonerações tributárias (ainda que não resolvam o problema da excessiva tributação do setor);

Reintrodução de medidas de política industrial diversas (embora ainda sejam relativamente tímidas, têm como preocupação os problemas e especificidades de alguns setores de atividade);

Incentivo ao investimento produtivo, por meio da redução do custo do crédito em linhas do BNDES;

Medidas para redução do nível das taxas de juros dos bancos comerciais, favorecendo a queda do custo do capital de giro.


José Ricardo Roriz Coelho, diretor-titular do Departamento de Competitividade e Tecnologia (Decomtec) da Fiesp


 

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